História do Chevette - Parte 1 - O Projeto 909
Após o estrondoso sucesso do Opala, a General Motors do Brasil decidiu repensar seus planos de produção e interromper a criação de uma versão perua deste modelo que já existia na Alemanha. O objetivo era se dedicar à criação de um carro pequeno, um projeto que fazia mais sentido para o mercado brasileiro da época. A empresa estava ciente da necessidade de se manter atualizada e de não perder o ritmo da evolução automotiva.
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Chevrolet Opala: O sucesso que viabilizou o Chevette |
Enquanto isso, a Volkswagen também estava atenta às mudanças do mercado e à obsolescência do Fusca. Decidiram oferecer novos produtos, como o VW 1600 quatro-portas, que foi apelidado carinhosamente de "Zé do Caixão", juntamente com seus derivados Variant e TL. Esses modelos foram um grande sucesso e conquistaram o coração dos brasileiros.
A Ford, por sua vez, não ficou para trás e decidiu desenvolver e lançar o projeto M, que herdara da Willys. Batizado de Corcel, era na verdade um Renault R12 redesenhado. A ideia era trazer um carro mais moderno e sofisticado para o mercado brasileiro. A empresa estava comprometida em oferecer aos consumidores uma nova opção de veículo, que atendesse às suas necessidades e expectativas.
Logo em seguida, bem no início dos anos 70, a Chrysler, após o vitorioso lançamento do Dodge Dart, iniciou o programa de testes do Hillman Avenger, que seria chamado de Dodge 1800. A ideia era trazer um carro mais potente e com melhor desempenho para o mercado. A empresa estava confiante de que esse modelo seria um grande sucesso, assim como o Dodge Dart.
Enquanto isso, a Volkswagen já estava experimentando os protótipos da "mini Variant". A ideia era trazer um carro compacto e moderno, que atendesse às necessidades dos consumidores da época. Esse modelo chegaria ao mercado com a mesma denominação que quase foi usada não só pelo "Zé do Caixão", como também pelo primeiro Aero Willys: Brasília.
No mesmo período, a matriz da GM nos Estados Unidos já planejava o lançamento de um novo modelo de carro pequeno que pudesse ser vendido em vários mercados ao redor do mundo. Esse projeto foi batizado de T-Car e seria o primeiro carro mundial da empresa. Esse projeto, que ocorreu cerca de uma década antes do J-Car (que, posteriormente, originou o Chevrolet Monza), resultou no Projeto 909 e, finalmente, no lançamento do Chevrolet Chevette.
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Primeiros estudos do Projeto 909 |
O Opala, cujas vendas superaram as do Ford Corcel, apesar de ser mais caro, foi fundamental para a viabilização do Projeto 909 no Brasil. Além de testar o mercado brasileiro, o Opala ajudou a expandir os pontos de venda e assistência técnica da Chevrolet no país, o que foi um fator crucial para o sucesso do Fusca no Brasil. Com uma rede de concessionários e assistência técnica forte, a GMB estava pronta para o lançamento do Projeto 909.
Em um pronunciamento publicado na revista Panorama, órgão de comunicação interna da GMB, R. F. McGill, diretor de vendas da empresa, afirmou que a rede de concessionários da Chevrolet estava suficientemente forte para enfrentar a grande concorrência do mercado. Em 1970, a empresa realizou outra sondagem de mercado, comprovando mais uma vez a viabilidade comercial do plano para o carro médio-pequeno.
Durante a gestão de James Waters, a GMB iniciou um processo de expansão para receber a linha de montagem do T-Car. O custo final dessa expansão foi de aproximadamente 102 milhões de dólares. O número de funcionários na fábrica de São José dos Campos saltou de 3000 para 8000, e foram construídos mais 120 mil metros quadrados para abrigar todos os equipamentos de vários departamentos, como prensas, funilaria, montagem, laboratórios, pintura, acabamento e seções auxiliares. O setor de estamparia seria responsável pela manufatura de cerca de 400 peças que seriam utilizadas no carro futuro, mostrando a grandiosidade desse projeto para a empresa.
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Em Abril de 71 já começavam a aparecer os modelos de testes. |
O T-Car, que era o primeiro carro verdadeiramente mundial da GM, foi um projeto revolucionário para a época e foi responsável por colocar a Chevrolet no mercado de carros pequenos. O sucesso do Opala e a expansão da rede de concessionários e assistência técnica da empresa foram cruciais para viabilizar esse projeto ambicioso.
Em julho de 1971, um importante marco na história da General Motors do Brasil (GMB) aconteceu: Juan Besó Mateo, um talentoso designer espanhol que se mudou para o país em 1961, após ter concluído seus estudos na Escola Superior de Arte de Valência, representando o Departamento de Estilo da GMB, juntamente com outros colegas, viajou rumo a Luton, na Inglaterra. O objetivo dessa viagem era participar de uma reunião com designers de seis países, incluindo profissionais da GM norte-americana, da Opel, da Vauxhall e da Holden. A reunião foi essencial para discutir detalhes cruciais do futuro T-Car, que seria produzido para quatro continentes, América, Europa, Oceania e Ásia.
A participação da equipe brasileira na reunião marcou a primeira vez em que uma equipe do Brasil participou de um programa padronizado, o que fez com que o país fosse reconhecido como uma importante peça no mercado automotivo internacional. Após muitos estudos e discussões, a equipe dos Estados Unidos e da Inglaterra concluiu que o Projeto 909 era a melhor proposta apresentada na reunião, e que ele iria substituir o velho Opel Kadett B na Alemanha.
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Opel Kadett B, seria a inspiração para o projeto 909 |
No entanto, a equipe de cada país teve permissão para realizar alterações no carro para adequá-lo ao mercado. No Brasil, por exemplo, optou-se pelo motor 1.4. Com o modelo definido, a GMB começou a trabalhar na viabilização da sua produção. Uma das primeiras atitudes nesse sentido foi destacar o engenheiro brasileiro Francisco Nelson Satkunas como engenheiro-residente na Opel, para que pudesse acompanhar de perto o projeto ainda em sua fase embrionária.
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Opel Kadett B em flagra rodando no Brasil |
O pequeno carro da Chevrolet começou a aparecer na imprensa especializada em 1971, com flagras dos testes com modelos alemães, cujo intuito era avaliar a adaptação desses carros para as condições brasileiras. Os veículos, importados da Alemanha pela GMB, eram dois exemplares do Opel Kadett B e três unidades do Opel Ascona, que era um pouco maior, de um tamanho intermediário entre o Fusca e o Opala.
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Opel Ascona A, um dos modelos trazidos para testes do T-Car |
Na época, o carro ainda não tinha um nome definitivo, mas já tinha recebido vários apelidos, como Mini GM, Opalim, Gemini e até Chevette (nome derivado da palavra "chevaux", que significa cavalo em francês, acrescido do sufixo diminutivo "ette"). O modelo finalmente foi batizado de Chevette, tornando-se um dos carros mais icônicos da década de 70 e 80, e um símbolo da indústria automotiva brasileira.
Abaixo, algumas fotos dos estudos de design do projeto 909, pela divisão britânica da GM: a Vauxhall.
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