História do Chevette - Parte 3 - A Rotina de Testes
No final de 1971, iniciou-se um processo minucioso de manufatura de itens de acabamento para o projeto do carro da GMB. Volantes, maçanetas, bancos e outros itens internos foram produzidos de forma artesanal, garantindo um alto nível de qualidade e cuidado nos detalhes. Cada peça foi produzida individualmente, passando por diversas etapas de acabamento até atingir o padrão desejado pelos designers.
Paralelamente, a equipe de engenharia experimental da GMB trabalhava intensamente na avaliação de toda a parte mecânica do veículo. O câmbio, diferencial, suspensões, caixa de direção e outros componentes passaram por rigorosos testes em laboratório para garantir sua eficiência e segurança.
Com os itens de acabamento finalizados e a parte mecânica avaliada, chegou o momento de produzir as primeiras carrocerias. Cada uma delas foi fabricada manualmente, em aço permanente, exigindo grande habilidade e precisão dos profissionais envolvidos no processo. Foram produzidas cinco carrocerias, que serviram como base para os cinco primeiros protótipos utilizados nos testes de estrada.
Para a fase de testes, a equipe da GMB contou com a companhia de dois Opel Kadett B, também alemães, que foram utilizados nas provas do grupo de avaliação de veículos do departamento de engenharia experimental. O experiente piloto Ciro Cayres comandava o grupo e já havia trabalhado nessa mesma função para a Simca. Contratado pela GMB ainda nos anos 60, para a fase de desenvolvimento dos protótipos do Opala, Cayres desempenhou um excelente serviço ao longo dos testes do novo carro da GM.
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| O piloto Ciro Cayres a bordo do protótipo do Chevette |
Em março de 1972, a equipe da GMB iniciou os testes com os protótipos do T-Car, na mesma época em que a empresa dava início ao processo de contratação de novos operários para a futura linha de montagem do Chevette, ainda chamado de Opalim pelas revistas especializadas. Para testar os veículos, a equipe liderada por Ciro Cayres contava com um time de 44 profissionais, incluindo 26 motoristas, 12 mecânicos e 6 engenheiros, que se revezavam nos testes de bancada e de estrada.
Os protótipos eram submetidos a situações extremas, raramente encontradas no dia a dia do motorista comum, com o objetivo de aprimorar todos os seus componentes. Para isso, foram estabelecidas várias rotas que passavam por estradas e ruas com características e particularidades diferentes, para realizar diversas avaliações, como testes de aceleração, durabilidade e resistência da carroceria e suspensão. A fábrica afirmava que alguns veículos percorriam em média 1440km por dia.
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| Uma das primeiras unidades sendo produzidas |
Entre as rotas estabelecidas, uma das mais conhecidas foi realizada na primeira quinzena de agosto, por três protótipos do Chevette, um Opala, uma Veraneio e um Ford Corcel GT (o estranho no ninho), que saíram de São Caetano do Sul, no estado de São Paulo, rumo a São Simão, cidade na divisa de Goiás com Minas Gerais. Durante um mês inteiro, entre 8 de agosto e 8 de setembro, a equipe ficou hospedada no hotel Pirarama Recreio, realizando diariamente o percurso entre São Simão e Quirinópolis, em Goiás, para avaliar o desempenho dos veículos em diferentes condições.
Os modelos em fase de protótipo apresentavam uma fascinante grade de alumínio falsa, que cobria completamente os faróis dianteiros, inspirada na aparência dos lendários Dodge Charger R/T de 1971. Além disso, os parachoques eram pintados de preto, os vidros das portas eram adornados com filetes cromados que imitavam quebra-ventos e os apliques ou rabetas, posicionados estrategicamente entre o final das colunas C e as laterais traseiras, davam uma impressão visualmente atrativa de ser uma carroceria "Semifastback".
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| Flagra do protótipo rodando, destaque para os apliques traseiros. |
Dos três protótipos, dois ostentavam placas azuis com as identificações HT 0403 e HT 0409, com lanternas traseiras normais, enquanto o terceiro carro possuía placas amarelas com o número CF 2604 e peças da marca Forlon, indicando acessórios desenvolvidos especificamente para a linha Corcel.
Os motoristas começavam o dia cedo, acordando às 4 horas da manhã para, a partir das 5 horas, iniciarem uma rotina de testes incansáveis, percorrendo continuamente o trecho de 54 km que ligava as duas cidades. Esse trajeto intensivo era realizado com o intuito de avaliar as capacidades do veículo, testando sua durabilidade, resistência e desempenho em diferentes condições climáticas e topográficas. Após essa maratona de testes, os carros eram direcionados para a oficina volante da GMB, que era instalada em uma enorme barraca localizada na área externa do hotel. Lá, os mecânicos e engenheiros analisavam os resultados dos testes e realizavam reparos necessários para garantir que os protótipos continuassem evoluindo.
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| Protótipo com grade estilo Charger R/T, conforme mencionado no texto |
Paralelamente aos testes de estrada, a equipe de desenvolvimento da General Motors do Brasil conduziu testes de bancada que submeteram partes do veículo a condições extremas. As portas e capôs foram abertos e fechados inúmeras vezes durante vários dias, enquanto a carroceria foi submetida a torções que ultrapassavam as encontradas nas ruas. Além disso, os motores e câmbios foram girados em alta rotação para testar sua durabilidade e foram estancados repentinamente, entre outros testes.
Durante esse período, a revista alemã "Auto Motor und Sport" publicou desenhos do novo modelo Kadett, confirmando que era o mesmo carro que estava sendo testado no Brasil. Ao mesmo tempo, a General Motors do Brasil estava trabalhando na expansão de sua fábrica em São José dos Campos. Esse programa exigiu 10 mil toneladas de perfis de aço até outubro de 1972, permitindo a instalação de novas prensas com capacidades de 800, 1000 e 1800 toneladas, e exigiu 36 mil sacos de cimento e 500 toneladas de aço estrutural. Os trabalhos de terraplanagem movimentaram 76 mil metros cúbicos de terra, enquanto a usinagem e fundição foram ampliadas em 19.500 e 13.000m², respectivamente.
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| Ciro Cayres e o protótipo do Chevette |
O dia 31 de Outubro de 1972 tornou-se uma data emblemática para a General Motors do Brasil, pois a empresa apresentou o primeiro motor Chevette feito em escala industrial no mundo. Produzido na fábrica de São José dos Campos, esse motor de quatro cilindros se tornou fundamental para a montadora durante a crise do petróleo, que começaria cerca de um ano depois, ao equipar o Chevette, o carro pequeno da Chevrolet que se tornou um dos maiores sucessos da indústria automobilística nacional. A criação e produção desse motor foi um passo importante para a GM do Brasil, permitindo que a empresa consolidasse sua posição no mercado e mantivesse sua liderança na produção de veículos automotores.
É interessante notar que, alguns dias antes da "inauguração" do primeiro motor 1.4 do Chevette em 31 de outubro de 1972, a primeira unidade produzida em série apresentou problemas devido a uma conexão equivocada na bancada de testes que impediu a passagem de gasolina. Felizmente, tudo foi resolvido a tempo para a cerimônia oficial.
No final de 1972, após os protótipos terem percorrido mais de 750.000 quilômetros, o Chevette estava quase pronto para o lançamento, mas a GMB decidiu não exibir o protótipo no 8º Salão do Automóvel. Em vez disso, a empresa preparou um painel com o Chevette e o Fusca sobrepostos, para mostrar como um carro mais moderno com dimensões semelhantes poderia oferecer mais beleza, conforto e segurança por um preço equivalente. A Volkswagen também não apresentou a Brasília no evento, e isso talvez tenha sido uma decisão acertada, já que as duas estrelas do Salão, o Dodge 1800 e o Ford Maverick, tiveram vários problemas e nunca foram líderes de mercado.
A GMB tinha razões para estar confiante no sucesso do Chevette. Afinal, o modelo contava com o novo motor de quatro cilindros, que seria produzido em larga escala na fábrica de São José dos Campos. Além disso, a empresa estava investindo na expansão da fábrica, com a instalação de novas prensas e a ampliação da usinagem e fundição. Isso significava a utilização de milhares de toneladas de aço estrutural e cimento, além de grandes quantidades de terra para a terraplenagem.
No entanto, a GMB também sabia que havia desafios pela frente. A crise do petróleo estava prestes a começar, e isso teria um impacto significativo na indústria automobilística brasileira. Felizmente, o Chevette se mostrou um sucesso imediato, e seu motor eficiente e econômico ajudou a impulsionar as vendas da GMB durante um período difícil para o mercado.
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| Chevette 1973 em frente à fábrica da GM em São José dos Campos |
No próximo e último capítulo dessa série especial, vamos dar mais detalhes sobre o Lançamendo do Chevette no Brasil, com muitas curiosidades e bastante informação. Fique ligado na nossa página do instagram @tocadochevette para não perder nenhuma parte do Especial Chevette 50 Anos!

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