História do Chevette - Parte 4 - O Lançamento

 A expansão da fábrica de São José dos Campos foi concluída em janeiro de 1973, o que gerou grande expectativa na imprensa quanto ao lançamento do Chevette nos meses seguintes. Nessa época, as revistas especializadas divulgavam fotos exclusivas do Chevette praticamente pronto, inclusive com imagens do painel, volante e bancos já definitivos. Essa divulgação causou grande alvoroço no mercado automotivo, com muitas pessoas aguardando ansiosamente o lançamento do veículo. Além disso, James Waters já havia sido nomeado diretor-geral de Operações da América Latina e substituído na direção da filial brasileira pelo também norte-americano John Beck, o que levou a expectativa ainda mais alta quanto ao sucesso que o Chevette poderia alcançar.

Fábrica da GM em São José dos Campos, em processo de ampliação

John Beck, natural de Terrytown, no estado de Indiana, foi escolhido para substituir James Waters na direção da filial brasileira da GM em 1973, aos 47 anos de idade. Beck trabalhava na empresa desde 1951, tendo iniciado sua carreira em diversas funções administrativas nos escritórios da GM em Nova York. Em 1957, ele mudou-se para o Peru, onde trabalhou como gerente de suprimentos por sete anos. Em seguida, ele foi transferido para a filial da GM no Uruguai e, em 1966, tornou-se gerente geral de vendas da empresa no México. Depois de retornar ao Peru como diretor gerente da GM em setembro de 1968, Beck foi nomeado presidente da GM mexicana em dezembro de 1970. Em seguida, foi nomeado presidente da GM brasileira, permanecendo no cargo até 1978, quando Joseph Sanchez assumiu a posição.


Chevette na linha de montagem - 1973

Foi sob a direção de John Beck, que o Chevette finalmente foi apresentado à imprensa brasileira na fábrica de São José dos Campos, em abril de 1973. Embora as revistas especializadas já tivessem publicado fotos do carro quase finalizado, somente em maio, quando as primeiras unidades começaram a ser vendidas, é que o lançamento foi noticiado pelos principais veículos de comunicação. A chegada do Chevette ao mercado foi um sucesso, tanto que as primeiras unidades também foram vendidas para outros países, em especial para o Panamá. Para comemorar o lançamento, a GMB organizou uma reunião informal para os jornalistas em um bar na cidade de São Paulo no dia 23 de abril às 19h30. 

Revista QuatroRodas, edição de fevereiro de 73, já divulgava o Chevette

No dia seguinte à reunião informal com jornalistas, a General Motors do Brasil realizou um grande show de apresentação do Chevette para a imprensa no Clube Pinheiros. O evento contou com a presença de diversos artistas renomados como Ronald Golias, Eliana Pittman, The Clevers, Sílvio César, Consuelo Leandro, Pepita Rodrigues, Yara Marques, Geórgia Gomide e Aizita Nascimento. Durante o evento, os convidados foram brindados com um almoço e coquetel de confraternização. A animação tomou conta do ambiente quando todos se uniram para cantar a música "Eu quero um carro", composta por Cláudio Bojunga e Francis. A canção retratava o desejo de possuir um carro durável, confortável, estável e acessível. Com a apresentação do Chevette, os jornalistas puderam experimentar pessoalmente todas as características que a música retratava e certamente ficaram encantados com o que viram.

O famoso comediante Ronald Golias era um dos convidados do evento

Durante o evento de lançamento do Chevette, houve a exibição de dois filmes que chamaram a atenção da imprensa. O primeiro deles mostrou a trajetória de uma cegonha transportando unidades do veículo de São José dos Campos até o Clube Pinheiros, enquanto o segundo mostrava R.F. McGill dirigindo um Chevette até o local onde faria seu discurso na convenção. Após a exibição do filme, McGill subiu ao palco para discursar ao vivo. Em seguida, outros executivos da GM, como J.F. Waters, A.F. Amado Jr. e Américo R. Netto, que foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a se especializar em automóveis, também fizeram discursos sobre o lançamento do Chevette. Netto, inclusive, fundou entidades e revistas especializadas em carros, além de ter orientado exposições automotivas desde a década de 1920. O evento foi um sucesso e marcou o início de uma nova era para a indústria automotiva no Brasil.

 

Fotos Oficiais do lançamento do Chevette


Após o evento no Clube Pinheiros, alguns ônibus fretados partiram da Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, levando cerca de quatrocentos participantes de todo o país para a fábrica de São José dos Campos. Lá, eles tiveram a oportunidade de experimentar o Chevette pela primeira vez. Durante o evento, a GM sorteou uma unidade do carro entre os jornalistas presentes, e o vencedor foi Hélcio da Cunha Ajuz, da Gazeta do Povo, de Curitiba, Paraná.

Na época do lançamento, o grande jornalista Joelmir Beting escreveu em sua coluna no jornal Folha de São Paulo: "O Chevette carrega a marca da GM, que não brinca em serviço. Com um investimento superior a 100 milhões de dólares, a GMB não apenas desenvolveu um novo carro, mas também dotou a fábrica de condições para atender a qualquer tipo de solicitação do mercado. O Chevette representa um novo marco dentro do mercado brasileiro de carros novos, pois incendeia a competição da faixa de preços mais baixos, a do primeiro carro do indivíduo e, agora, também a do segundo carro da família".

Chevette - A GM não faria apenas mais um carrinho!

No dia 4 de maio, uma sexta-feira, os 300 revendedores autorizados da Chevrolet começaram a entregar as primeiras unidades do Chevette ao público comprador que já esperava na fila. Esse evento marcou o início de uma nova era no mercado automotivo brasileiro e o resultado de um grande investimento de 110 milhões de dólares pela GMB. Mas as novidades não pararam por aí. Em 11 de julho, a GM deu início ao programa de exportação do Chevette, que logo se mostrou bem-sucedido. Algumas unidades foram embarcadas em um avião cargueiro Jet Clipper da Pan American Airways e enviadas para o Panamá, onde o veículo foi apresentado a diversos concessionários locais. Esse foi apenas o começo do programa de exportação, que se expandiria para quase toda a América Latina.


Em julho de 73, o Chevette embarcava rumo ao Panamá

O lançamento do Chevette foi um grande marco na história da indústria automobilística brasileira, mostrando a força da GM e o potencial do mercado nacional. A partir desse momento, o veículo se tornou um sucesso de vendas, atraindo a atenção de consumidores de todo o país e além. Com sua qualidade, durabilidade e design moderno, o Chevette abriu caminho para uma nova geração de carros populares no Brasil. Foi também um marco na geração de empregos, de crescimento econômico e também de acessibilidade ao consumidor final, pelo seu baixo custo em relação aos concorrentes.


Completando hoje, 24 de Abril de 2023, seus 50 anos de história, o Chevette passa a integrar a lista dos merecidos "clássicos nacionais". Um carro que, além de toda o metal, borrachas, vidros, tecidos, e etc, traz consigo histórias. Histórias de quem comprou um zero, de quem teve como primeiro carro, de quem sempre sonhou em ter um, de quem teve a oportunidade de guiar ao menos uma vez na vida, de quem estava no banco do carona enquanto o motorista fazia atrocidades divertidas... quem nunca?

A verdade mesmo, é que o Chevette sempre esteve em nossos corações, e sempre estará. Afinal estamos aqui para manter a cultura chevetteira viva. Enquanto houver brilho nos olhos de alguém ao ver um belo Chevette desfilar pelas ruas, o propósito da GM seguirá sendo cumprido.

Feliz aniversário, Chevette! E que você possa rodar por muitos anos nas estradas, e viver por ainda mais tempo nas nossas memórias!


Antonio M. B. Melo


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